7 - Caçada

Jillian estava sentado ao lado de Hades quando Abbadon e Hamanne chegaram correndo e gritando desesperados.
- Letthe fugiu!
- Como? - disse Jillian, abismado.
- A cela está toda queimada e o corpo dela não está em nenhum lugar, ela não pode ter conseguido fugir assim.
Hades se levantou e começou a andar de um lado para o outro - Eu incendiei a cela, acabei a subestimando. - Ele alisava a barba, longa e espessa, pensando no que e como Letthe havia feito para escapar da cela. - Mas é impossível que ela tenha fugido e não haja vestígios... Abaddon, mande os seus melhores homens vasculharem o Submundo, os mares, o Olimpo, tudo.
- Sim senhor. - disse Abaddon, andando em direção ao portão central, gritando todos os homens que haviam no castelo. Seus cabelos ruivos balançavam de uma tal forma enquanto andava, com aquele jeito marrento que mais parecia um homem das cavernas, que Perséfone e Hamanne foram obrigadas a admirá-lo e pensar se Hades já havia tido tal aparência.
- Eu mesmo vou vasculhar a cela, se aconteceu o que estou pensando, ela está escondida aqui em algum lugar. Hamanne, rastreie-a.
- Não é simples assim amo, vou precisar de algumas coisas. - Hamanne estava sentada ao lado do trono de Hades, mordiscando os lábios e mexendo no cabelo.
- Tudo bem, eu arrumarei tudo que for preciso. Ás vezes me esqueço que seu dom é poderoso, porém necessita coisas complicadas para que entre em ação.
- Blá blá blá, você não sabe fazer nada além de dar ordens, gritar e reclamar. Vá logo buscar as coisas antes que aquela praga fuja de vez. - Hades bufou, entrou no corredor mais longo e escuro de todo o castelo... e sumiu.

- Isso só pode ser um pesadelo. - disse Letthe, sentando no chão sujo e úmido da celo, colocando as mãos no rosto e chorando.
- Não é, então trate de aceitar a realidade. Agora você deve desconfiar até se seus pais são mesmo seus pais. - Darick se virou e saiu do lugar, trancando o segundo portão... e o terceiro. Não havia chave alguma de Letthe sair dali, Hades a conhecia, sabia como era traiçoeira, que não conseguia ficar presa em um lugar por muito tempo.
"Você tem duas opções garota: ou se acostuma a ficar presa ou se acostuma." disse uma voz um tanto quanto familiar em sua cabeça.
- Quanto tempo você acha que consegue me manter presa aqui? Reforce a sua guarda porque eu vou sair daqui! - um clarão surgiu na cela. Fogo! A cela estava pegando fogo. - Uma xamã não morre assim! Me queime Hades. Encendeie a cela quantas vezes quiser! Eu vou voltar! - o fogo tomou conta do lugar, Letthe ria e gritava como se fosse a coisa mais engraçada que já viu na vida.

Darick. Não acredito que era ele, não acredito que ele estava ali. Agora tudo fazia sentido, o fato de ele ter descoberto o apartamento da minha tia do nada, sendo que eu não tinha dado o endereço para ele e muito menos falado para onde iria me mudar.
- Hades deve ter te dado uma oferta muito boa para ter feito tudo isso.
- E como deu... todo o poder de um semideus, você pode imaginar o que é isso Letthe? Não preciso mais de você, não preciso de mais ninguém.
- Você nunca precisou de mim Darick, até porque eu te deixei sozinho. E é assim que você vai continuar... um filho da puta sozinho e esquecido em meio a escuridão. - Darick levantou-se da cadeira em que estava sentado, foi em direção à cela de Letthe, a abriu e puxou-a de lá.
- Escuta aqui, você acha que é quem Loretthe? Você não passa de um pedaço de merda perto de mim Letthe, - Darick puxou seu cabelo e aproximou seu rosto do de Letthe, até sua testa encostar na dela e sussurrou - eu tenho mais poder sob você, e qualquer um outro que está neste inferno de lugar, do que você imagina. - Ele passou a língua pelos lábios da garota, que fechou os olhos demonstrando nojo. Darick a jogou dentro da cela novamente - Então Letthe, acho melhor você pensar bem até quando for respirar, porque ficará presa aqui por um bom tempo... até Hades resolver se vai cortar sua cabeça e usá-la como troféu ou deixar com que eu, Jake e Perséfone façamos o que quisermos com você.
- Jake? O que ele tem haver com isso? - Letthe estava assustada e com nojo, não tinha mais ideia do que estava acontecendo, tudo o que queria era que estivesse sonhando.
- Oh, acho que não te contaram, Jake não é seu irmão, nunca foi.

Assim que chegaram ao submundo, foram calorosamente recebidos por Cerbero, Perséfone estava  sentada na escadaria do castelo de Hades, o lugar era quente e escaldante como um vulcão em erupção, mas como Pérsefone odiava tanto o submundo quanto a Hades, não fazia diferença alguma o lugar em que estava, ele a perseguiria de qualquer forma, era ela quem ele queria.

- Chegaram cedo, ela ainda está dopada? - Pérsefone se levantou e veio em nossa direção, levantou a cabeça de Letthe e observou seu rosto - Ela é a cara daquela vagabunda.
- Perséfone! - esbravejou Abbadon - Pra quê essa ignorância toda?
- É por causa dela e da mãe dela que estou aprisionada neste inferno! Eu quero a cabeça dela. Agora!
- Você não quer nada - disse Hamanne em um tom sarcástico - Hades nos dirá o que faremos com ela, e assim o faremos. Você não tem poder, você não manda aqui Perséfone, apenas foi obrigada a se casar com Hades e cumprir o acordo. - Perséfone tremia de raiva, uma única lágrima escorreu pela bochecha. Sentou-se novamente na escadaria, chamou Cerbero e começou a acariciar uma das cabeças.
- Tudo bem, subam, falem com Hades e vejam se não foi por isso que mandou trazer a maldita Loretthe para este inferno de lugar.

                                                                      ...


- Alguém pode me dizer onde inferno de lugar eu estou?! Que droga! - Letthe estava em uma cela úmida e escura, tinha cheiro de mofo e respingos de sangue por toda a parte. Letthe não tinha ideia de como tinha ido parar naquele lugar, só se lembrava de um homem grande e musculoso, de cabelos ruivos e longos... Abbadon. Jillian! Mentiroso! Ele o conhecia. Desgraçado, ele havia a colocado naquele lugar horrível. - Jillian! Seu desgraçado! Alguém me tire daqui!
- Você é muito barulhenta para o seu tamanho, não acha? Loretthe Hownnolinsk.
- Desgraçado.

6 - Arrastada para o inferno

Enquanto Abbadon e Jillian desciam com Letthe para o estacionamento do apartamento, Hamanne os esperava próximo ao portal que os levaria ao castelo de Abbadon, onde pensariam no que fazer com Letthe.
-Jillian, quando você vai mostrar sua verdadeira forma pra ela?
- Que papo é esse Hamanne?
- Por favor, todos nós sabemos que a forma humana não é sua verdadeira forma.
- Ah, então era sobre isso que Hades havia me falado para  tomar cuidado, o pequeno Jillian não é humano. Fiquei sabendo que os efeitos da transformação já estão surgindo. - zombou Abbadon.
- Eu não quero falar sobre isso...
- Você precisava ver tio, ele ficou vermelho que nem um pimentão e tremia como uma vara verde, foi hilário. - Abbadon e Hamanne soltaram uma gargalhada estridente. Jillian realmente não era humano, estava em fase de mutação, o que seria a adolescência pros humanos. Em algumas semanas ele se tornaria a criatura mais temida de todo o Submundo e ninguém poderia impedi-lo.

De repente tudo ficou escuro e Letthe ficou meio tonta. Como assim aquilo havia sido um truque? Quem faria uma brincadeira de mau gosto como aquela, com os próprios filhos ainda? Letthe desmaiou, caiu nos pés de Abbadon. Pálida e com olheiras por não conseguir dormir direito há uma semana.
- Letthe! - Jillian se soltou dos braços de Abbadon e correu para ajuda-lá.
- Calma garoto, ela vai ficar bem. Vai, segura um dos braços dela, eu vou pegar o outro, vamos levar ela lá pra baixo, eu preciso levar ela pro seu pai.
- Meu pai?
- Vai me dizer que Hades, o marido de Perséfone, não é seu pai?!
- Oh, é... é que eu não me considero filho de Hades.
- Tá brincando né? Você é a cara dele! É pálido e frio como ele. - Jillian riu. Na verdade, Jillian nunca gostou de ser comparado com Hades, embora fosse muito parecido com ele.
- Você quer levar ela pro meu pai?
- Foram as ordens que eu recebi.
- E... você sabe o que ele quer com ela?
- Relaxa, ele não vai matar ela. Você sabe melhor que ninguém que Hades não é muito fã de matar com as próprias mãos.

Abbadon olhou para Letthe com aquele olhar frio e sanguinário. Ele era como um armário de tão grande e musculoso. Era moreno e alto, tinha um cabelo grande e ruivo esvoaçante. De repente a névoa sumiu e um silêncio ensurdecedor surgiu.
- O que está havendo aqui? Você só precisava me levar as crianças Empousai, não precisava fazer uma entrada triunfal. - Abbadon estava bufando, literalmente. Conseguia-se ver a raiva perfeitamente em seus olhos, eles estavam mais escuros e estreitos e ele estava suado, rangendo os dentes de raiva. - Vamos, pare com essa palhaçada e apareça!
Empousai surgiu atrás de Abbadon. Era incrível como ela obedecia ele, era como se ela fosse um cachorrinho e ele seu adestrador.
- Me dê o menino, pode ir embora que daqui pra frente eu me viro. - Empousai desapareceu em um piscar de olhos. Assim como a rachadura que havia sido aberta no chão para ela fazer sua entrada triunfal.
- Ora, ora, ora. Olhe o que temos aqui, o filho de Perséfone e a filha de Apolo... você é um tanto quanto sem graça comparada ao seu pai.
- Do que você está falando seu doente?
- Eu estou falando tudo o que você deveria saber há muito tempo Loretthe Hownnolinsk, seus pais não estão mortos, nunca estiveram, aquele acidente... aquilo foi um truque. Eles não sofreram acidente algum.